18 março 2005
Fu marmota*
José Manuel dos Santos, para regozijo geral da sua família mais próxima bem como dos seus parentes mais afastados, decidiu recentemente continuar a tradição, com mais de cem anos, da sua família, de ser fumador depois de anos de auto-disciplina sem nicotina. Ele anunciou a sua decisão ontem à noite numa cerimónia dramática onde o seu pai, António José, simbolicamente, acendeu o cigarro SG Gigante do petiz, com a beata do seu próprio cigarro.
“Muitos pais sonham com este momento, mas são ...glup...poucos....diabos...” - e começa a engasgar-se e a abraçar fortemente, para esconder as lágrimas de emoção, o filho – “...Eu adoro-te, filho.”
A Tabaqueira ofereceu um cigarro especial, o que originou uma salva de palmas acalorada por parte da família. Familiares que ainda não sabiam da boa nova, ficaram felizes e ao mesmo tempo surpresos por verem a Tabaqueira a participar numa festa para celebrar o sexto aniversário do primo José. “Todos esperámos que ele abandonasse a família e tentasse vencer sozinho”, disse o padrinho, “mas quando o vimos a sacar do maço de SG Gigante e a acender um cigarro entre o jantar e a sobremesa, ficámos com a certeza de que ele estava muito mais maduro e que finalmente se tinha tornado num homem.”
A tia babada diz que “É bom vê-lo apegado às tradições da família, ainda para mais quando se ouvem histórias de crianças a fugir de casa e a tentar outras coisa que não fumar e a acabarem num hospital ou na sarjeta.”
“Fumar tem sido uma herança cultural familiar que foi criada pelo tritetravô Ramiro que quando veio de Peso da Régua de burro e mal chegou à capital, para descontrair, fumou um cigarro de barbas de milho. Eu fumo, o meu pai fuma e o pai dele fumava. Agora o meu filho também fuma, respeitando uma longa linhagem de travadores.” Continuou, “ Espero que um dia o Zé seja capaz de partilhar a sua tradição com o seu filho e por aí em diante. Só espero estar cá para ver isso.”
Os pais de José expressaram a sua revolta contra as novas gerações pelas suas atitudes “saudáveis para o corpo e mente” e filosofias de vida sem tabaco. Um perigo real é ser apanhado numa manifestação num restaurante, para proibir fumar em recintos fechados. Contaram-me inclusive que “ele passou por fase rebelde em que ia para o quarto enjoado com o fumo da sala. Felizmente foi temporário e quero que ele saiba que nos deixa muito felizes e que saiba que o ajudaremos em tudo o que ele precisar.”
Neste dia recebeu variadíssimos volumes de tabaco, cinzeiros e o isqueiro antigo, um Zippo, que era do seu avô. “Era o que o Avô dele quereria se fosse vivo se não tivesse morrido com 47 anos com um enfisema pulmonar” – disse a matriarca através de uma aparelho instalado na traqueia. “Não fora a quimio-terapia e saltava de alegria para os braços dele”, adiantou.
A Avó acrescentou a olhar para cima, “o avô deve estar a vê-lo do céu com aquele sorriso acastanhado. Quando está nevoeiro, eu sei, que é ele que está lá, a bafar e a olhar por nós...”
*- título à le in-cool-2-much
posted by Dimitri Apalpamos @ 3:54 da tarde,