23 junho 2005
Curso para tipos que se estão nas tintas para a arte, mas que andam de olho numa miúda que trabalha no museu.
Quem é que nunca teve num museu e viu um tipo qualquer de braços cruzados a segurar o queixo a franzir o olhar para um quadro pintado todo de roxo mas com um ar seguro?
Com a minha ajuda e um pouco de esforço ,quem sabe se um dia não se tornará num destes especialistas. Se calhar até conseguirá acreditar naquilo que lhe sair da boca.
As dicas que lhes darei, irão capacitá-los a ter a pretensão ilusória de perceber a arte e atirar com umas bujardas que vão fazer com que achem que percebem alguma coisa daquilo que estão a falar.
Atribua sentimentos às peças. Não interessa quais. A arte e o gosto são subjectivos:
“Há que tomar atenção à simplicidade do manifesto e às emoções mais puras naquela peça do homem sem cabeça, com três braços e com pedras em vez de pés.”
O uso de frases compridas e com palavras caras costuma dar resultado:
“Noutro contexto, uma torradeira será sempre uma torradeira, mas aqui por detrás deste vidro e com todas estas pessoas a olhar, simboliza a solidão da consciência colectiva na nossa pós moderna sociedade industrial.”
Ás vezes inverta a situação. Se lhe aparecer um cromo responda com esta:
“Mas porque é que as coisas tem que significar alguma coisa? Elas são o que são. Para mim isto é apenas um bocado de vidro coberto de sangue humano, semen, saliva e excrementos...”
Esta é clássica e poupa muito latim:
“Se não percebes esta obra, então as explicações são desnecessárias...”
É importante que, ao passear num museu, ande sozinho. As outras pessoas vão pensar que está concentrado na exposição e não o vão incomodar.
Faça movimentos regulares de aproximação e afastamento das peças, baixe-se e entorte a cabeça. Vai parecer que está a observar as peças de um outro ângulo. Possivelmente o ângulo do autor e aqui está o centro da questão toda. O ideal é fazer passar a ideia de ter atingido esse patamar. Um sorriso cínico ajuda.
O guarda-roupa também é importante. Pode optar por dois estilos diferentes. Há mais mas podem confundi-lo com um leigo.
Se optar pelo estilo clássico, use laço com um fato de fazenda. Nunca gravata. Como acessório, um cachimbo apagado ou um moleskine. É mais credível se usar ma pêra ou um bigode aristocrático.
O estilo de estudante é do tipo chapitô – meias ás riscas roxas e amarelas por cima do pijama turco cinza, barrete com um guizo e casaco de malha roto. Qualquer harmonia na combinação de cores pode denunciá-lo, portanto atenção.
Espero que estas dicas vos sejam úteis.
posted by Dimitri Apalpamos @ 5:22 da tarde,